Pergunta ao teu pai
Título
Pergunta ao teu pai… e outras frases misteriosas de adultos — Um pequeno guia para a sua investigação
Autores
Davide Cali e Noemi Vola
Edição
Bruaá, 2018
Dimensões da educação para a cidadania
educação para a igualdade; educação para os direitos humanos
Palavras-chave
família; relação pais-filhos; tensões adultos-crianças
ENQUADRAMENTO
Este livro tem um título enorme. E, como se isso não bastasse, ainda tem um subtítulo. Chamam-lhe um guia. Um guia para compreender adultos.
Os adultos são crianças crescidas, não são propriamente outra espécie ou alienígenas, mas é verdade que muitas vezes até parecem! Por isso, um guia, um manual de instruções, uma espécie de dicionário para decifrar a sua linguagem — muitas vezes misteriosa para uma criança — pode ser bastante útil.
A linguagem (a forma como falamos uns com os outros) é a maneira mais simples e eficaz de os seres humanos se entenderem. Só que, muitas vezes, ela é também um motivo de mal-entendidos. Principalmente entre crianças e adultos. É certo que os adultos têm mais experiência e sabedoria acumulada, mas sobre certos assuntos podem saber tanto quanto uma criança, o que, por vezes, quer dizer que não sabem nada. Só que (já deves ter reparado) usam as frases habilmente: como mestres samurais, esgrimem a sua espada e acabam por dar-te a volta sem saberes bem como. Por vezes dizem coisas — e tu ouves essas palavras — que, na verdade, querem dizer o seu contrário. É extremamente cansativo.
E é por isto que este livro pode ser utilíssimo. Nele encontras uma lista de respostas típicas, frases-trunfo, perguntas com rasteira, perguntas tontas, que são, vezes sem conta, repetidas pelos adultos desde tempos imemoriais. Vais ver: quando fores adulto, vais apanhar-te mil vezes a dizê-las quase sem te dares conta! Mas, por agora, és da equipa das crianças e podes valer-te deste manual.
Nestas ilustrações, loucas e magníficas, que parecem feitas por adultos e crianças ao mesmo tempo, os adultos aparecem com diferentes formas e feitios: por vezes são humanos, mas outras são monstros verdes ou até dinossauros; às vezes são enormes, outras vezes são minúsculos. Talvez isso aconteça porque, aos olhos de uma criança, um adulto é, em muitos momentos, de difícil compreensão, um verdadeiro extraterrestre. Resta saber se o contrário também é verdade…
PERGUNTAS PARA PENSAR
Porque são os adultos tão misteriosos aos olhos de uma criança?
O que achas que separa os adultos das crianças? O que é diferente no mundo dos adultos e no mundo das crianças?
Achas que os adultos têm mais sorte do que as crianças? Achas que têm mais privilégios ou mais deveres?
Achas que há coisas que só podem ser vividas pelos adultos? Quais?
E achas que há coisas exclusivas para as crianças? Quais?
Qual achas que é a melhor parte de ser adulto? Qual achas que é a melhor parte de ser criança?
Se pudesses, escolherias ser já adulto? Porquê? Se pudesses, escolherias ficar criança para sempre? Porquê?
Se pudesses mudar a ação dos adultos na tua casa, o que mudavas?
Se pudesses mudar a ação dos adultos na tua escola, o que mudavas?
Se pudesses mudar a ação dos adultos no mundo, o que mudavas?
Dos teus interesses (coisas de que gostas de falar, jogos que adoras fazer, livros que te interessam, etc.), quais dirias que são os mais incompreendidos pelos adultos? E dos interesses dos adultos, quais são os que te interessam menos a ti?
Há assuntos proibidos entre adultos e crianças? Há temas sobre os quais é impossível conversar com os adultos? Porquê?
Quais achas que são as respostas mais vezes repetidas pelos adultos à tua volta? Quais são as perguntas que mais vezes fazem? E quais as coisas mais tontas que os adultos dizem? Quais as mais irritantes?
Se pudesses dar um grande conselho aos adultos à tua volta, qual seria?
EXPLORAÇÃO
Criação de várias listas que comprovarão (ou contrariarão) a impressão que as crianças têm dos adultos
Tipo de exploração
escrita
Material sugerido
bloco de notas ou caderno; caneta ou lápis
O que te desafiamos a fazer é que, durante uma semana, estejas muito atento ao que dizem e fazem os adultos à tua volta e que tomes nota do que vês e ouves.
1. Deves arranjar um pequeno bloco ou caderno que te acompanhará ao longo de uma semana. Este bloco vai servir para fazeres uma série de listas.
2. Lista n.º 1 — Ao longo de um dia inteiro, vais tomar nota da palavra mais vezes repetida pelo teu pai*. Para perceberes a sua frequência (isto é, de quanto em quanto tempo a palavra é dita), podes anotar cada uma das horas exatas em que o teu pai* disse a palavra em que reparaste. Ex: palavra “cansado” — 16h47, 17h03, 18h21.
3. Lista n.º 2 — Durante quatro dias, vais escrever no bloco todas as respostas sem sentido dadas pela tua mãe** a perguntas feitas por ti.
4. Lista n.º 3 — Ao longo de cinco dias, vais escrever a coleção de todas as perguntas tontas (como as que vês no livro) feitas por adultos à tua volta***.
5. Lista n.º 4 — Deves registar tudo o que comeste sem consentimento ou aprovação dos adultos ao longo de 8 refeições (ou fora delas!).
6. Lista n.º 5 — Durante três dias, anota o número de vezes em que foste obrigado a fazer uma tarefa horrível em casa.
7. Lista n.º 6 — Durante uma semana (incluindo o fim-de-semana!), regista o número de vezes em que te sentiste enganado por um adulto, ou em que apanhaste um adulto a mentir. E regista também o conteúdo da mentira…
8. Testa a paciência de um adulto (atenção, convém escolher um adulto que tenha alguma descontração e não se zangue muito!) fazendo-lhe as perguntas mais difíceis e constrangedoras que consigas imaginar — aquelas que sabes que normalmente envergonham os adultos e a que eles não querem mesmo responder! Anota no teu bloco as melhores respostas e, se for divertido, as melhores reações às perguntas — porque pode ser que o adulto fique tão atrapalhado que se ria, gagueje ou até core. Nem sempre é através da fala que conseguimos entender os adultos. Às vezes, importa mais uma reação do que uma resposta.
9. Agora que todos têm as listas prontas, vão fazer a lista do Top10. Vai ser uma lista que reúne os dez registos mais divertidos ou mais rebuscados ou os que se repetem em várias das vossas listas. Podem até propor traduções. Por exemplo: “amanhã logo se vê” significa “em princípio, não”!