O urso e o gato selvagem
Título
O urso e o gato selvagem
Título original
Kuma To Yamaneko
Autores
Kazumi Yumoto e Komako Sakai
Tradução
António Barrento
Edição
Bruaá, 2011
Dimensões da educação para a cidadania
educação para os direitos humanos
Palavras-chave
luto; saudade; vida e morte; sentido da vida
ENQUADRAMENTO
Tal como este urso, todos nós vamos, um dia, passar pela experiência de perder alguém próximo. Se calhar até já passámos. Sabemos que foi ou será um momento triste e que temos ou teremos saudades.
Quando um momento desses chega, temos mesmo de o viver intensamente, sem medo nem vergonha. É normal, saudável e necessário ficar triste, chorar, pensar em quem partiu, recordar o tempo que passámos juntos. É normal, saudável e necessário homenagearmos quem deixou de estar connosco e de quem sentimos uma falta tão grande que é como se nos faltasse uma parte do corpo. Depois de chorar o suficiente e de lembrar aquele que morreu, iremos, aos poucos, sentir-nos melhor, capazes de seguir em frente e de deixar a vida acontecer. Parece impossível, mas a vida continua mesmo e a dor vai ficando cada vez mais pequenina. A saudade, essa fica sempre.
Às vezes, quando perdemos alguém mesmo muito importante para nós, precisamos de mudar as coisas à nossa volta. Precisamos de recomeçar e de encontrar um novo sentido para a nossa vida, tal como fez o urso ao decidir seguir o gato selvagem pelo mundo fora. Se reparares, isto acontece muito aos adultos, que, quando têm hipótese, decidem mudar de casa, fazer uma viagem ou mudar de trabalho.
Esta história conta um destes momentos, de uma grande tristeza, na vida do urso. Ele acabou de perder o seu amigo passarinho e está desolado. Tão desolado que não consegue despedir-se dele: anda para todo o lado com a caixa que preparou para o guardar. Deseja que o tempo volte para trás, tem saudades do seu companheiro, parece que perdeu as forças e a vontade de viver. Mas um dia, depois de ter chorado tudo o que precisava, encontra o gato selvagem. E é este novo conhecimento que ajuda o urso a ultrapassar a perda do passarinho. A música que o gato selvagem toca serve para homenagear e lembrar o seu amigo e ajuda o urso a lembrar-se das coisas que passou com o passarinho. Coisas boas e coisas más, como acontece na vida de toda a gente e em todas as amizades.
É ao som do violino que o urso se lembra de tudo o que viveu com o seu amigo e que decide não chorar mais. Enterra, finalmente, o passarinho. E, na companhia do gato selvagem, recomeça a sua vida. Segue em frente, por um novo caminho, com um novo amigo. Decide aprender a tocar pandeireta — uma pandeireta que talvez tenha pertencido a um amigo já desaparecido do gato selvagem — e segue a tocar e a dançar, viajando com o gato selvagem por sítios novos e desconhecidos.
PERGUNTAS PARA PENSAR
Porque nos perturba tanto a partida de alguém? Será porque temos tão poucas respostas em relação ao que acontece quando se morre?
Pelo mundo fora existem muitas respostas diferentes para o mistério da morte: há quem pense que quando morremos renascemos noutro lugar ou noutro corpo, há quem acredite que vamos para um sítio bom, há quem defenda que, quando se morre, tudo acaba, simplesmente.
Que ideias tens sobre o assunto? O que achas que acontece quando se morre e que ideia te deixa mais confortado?
Será que, quando se morre, se vai para um lugar? Se sim, que lugar é esse? Onde fica? O que há lá?
Será que se parte numa viagem? E para onde? E que meio de transporte se usa?
Será que a pessoa se transforma numa outra coisa, num outro ser? E como é que esse processo decorre?
E será que, com os animais, acontece o mesmo que com as pessoas?
E porque será que as pessoas e todos os seres vivos morrem? Será que o planeta precisa que a morte exista? E porquê? Como seria o mundo sem morte? E será que existiu uma altura em que não havia morte?
Será que os adultos e as crianças lidam com a morte da mesma maneira? É mais fácil para ti falar com um adulto ou com outra criança sobre o tema?
Quando alguém morre, há uma série de rituais que se fazem: o urso pôs o passarinho numa caixa bonita, mais tarde o gato selvagem tocou para ele; os humanos costumam deitar os seus mortos em caixões, oferecem flores, fazem discursos, contam histórias sobre a pessoa que morreu, alguns rezam missas, outros dão festas, fazem danças ou comem em conjunto. Tudo isto são rituais, maneiras de fazer. Que rituais destes conheces? E para que servem?
EXPLORAÇÃO
Construção conjunta de uma “mala de ferramentas” para lidar com a perda
Tipo de exploração
projeto (expressão plástica e recolha de objetos)
Material sugerido
mala de viagem antiga (ou caixa de cartão e cordas); objetos variados
Lembras-te da parte da história em que o gato selvagem tocou uma ária* para o urso e para o passarinho? Foi nessa altura que o urso se lembrou de toda a sua vida com o passarinho. A música do gato selvagem foi uma maneira de o urso viver o luto e ultrapassar a sua tristeza. A ária do gato selvagem foi uma espécie de ferramenta que ajudou o urso a lidar com a morte.
O que te propomos é que, em conjunto com o teu professor e colegas, construas uma mala de ferramentas. Normalmente as malas de ferramentas guardam martelos e alicates. Esta será uma mala de ferramentas para utilizar quando perdermos alguém importante na nossa vida.
1. Primeiro a mala. Podes usar uma mala de viagem antiga. Talvez o teu professor a consiga arranjar numa feira de coisas antigas (ou algum dos teus colegas, ou mesmo tu, em casa de tios ou avós!). Podem também construir a vossa própria mala de ferramentas com uma caixa de cartão e cordas para fazer uma pega. A mala pode ainda ser decorada por todos.
2. Cada um tem de pensar numa coisa útil para o ajudar a lidar com a tristeza e as saudades que ficam quando alguém parte. Podem ser coisas concretas ou abstratas. Aqui ficam alguns exemplos de ‘ferramentas’: chorar muito e à vontade; ouvir a música preferida da pessoa que partiu; ter sempre por perto a fotografia da pessoa que morreu; cozinhar o seu prato favorito e fazer uma refeição a pensar nela; arranjar um animal de estimação e dar-lhe o seu nome.
Cada um deve decidir qual a ‘ferramenta’ que melhor o poderá consolar. Este passo deve ser debatido em conjunto. Cada um deve ter uma ‘ferramenta’ para a mala comum; no entanto não poderá haver duas ferramentas iguais.
3. Depois de decidirem juntos quais as diferentes ‘ferramentas’ que deverão compor a vossa mala, cada um deve pensar num objeto que possa simbolizar a sua ideia. Por exemplo: uma embalagem de lenços de papel para representar o choro; um cd ou uma caixa de música para simbolizar a música preferida; uma fotografia para a ideia da fotografia da pessoa que morreu; um talher ou um livro de receitas para representar a refeição com o prato favorito; um boneco em forma de animal que possa dar corpo à ideia do animal de estimação.
4. Os objetos podem depois ser depositados no interior da mala. Esta mala de ferramentas pode ficar num local acessível a todos (na sala de aula, por exemplo), para que possa ser usada em caso de emergência e sempre que for necessário consolar alguém.