O estranho
Título
O estranho
Título original
The stranger
Autor
Kjell Ringi
Tradução
Miguel Gouveia
Edição
Bruaá, 2018
Dimensões da educação para a cidadania
educação intercultural; educação para os direitos humanos; dimensão europeia da educação
Palavras-chave
medo; desconhecido; preconceito; o outro; diferença; diversidade; empatia
ENQUADRAMENTO
O mundo é constituído por muitos países diferentes, cada um deles com a sua cultura, os seus costumes, as suas tradições — algumas mesmo muito estranhas para nós. Essa espécie de puzzle de países encaixa todas essas diferenças numa grande manta de retalhos riquíssima.
Somos todos diferentes uns dos outros. Por vezes, essas diferenças notam-se mais quando chegamos a outro país. Mas as grandes diferenças podem estar mesmo aqui, ao virar da esquina — na tua escola, dentro da tua turma, ou até mesmo na tua família.
Muitas vezes não é preciso ir muito longe para encontrar o medo da diferença: ou porque alguém tem a pele de uma cor diferente da nossa, ou porque tem uma cultura diferente da nossa, ou porque come coisas que achamos mesmo esquisitas, ou porque se veste de uma forma que, achamos nós, é estranha. Estranho é tudo aquilo que não percebemos ou não conhecemos e às vezes nos desperta curiosidade.
Neste livro, uns enormes pés ameaçam uma população. Mas, pensa, não poderemos tentar ver esta história de outro ponto de vista? Se este livro (que é um retângulo que foi cortado abaixo dos joelhos deste suposto estranho) fosse cortado mais acima, de modo a vermos a cabeça desta grande figura, não poderíamos antes contá-lo assim: “Neste livro, uns seres minúsculos ameaçam alguém…”?
Todos nós já nos sentimos estranhos, um dia, em alguma situação ou lugar. E uma coisa é sentirmo-nos diferentes e isso ser uma coisa boa; outra coisa é sentirmo-nos estranhos e isso ser uma coisa má. Sentirmo-nos diferentes dos outros pode significar sentirmos que temos alguma coisa especial pela qual os outros nos admiram. Sentirmo-nos estranhos pode significar estarmos de fora, sentirmo-nos rejeitados, olhados de lado ou atacados pelos outros.
Para alguma coisa ser estranha, tem sempre de haver dois lados. E há um lado onde não é nada bom estar…
PERGUNTAS PARA PENSAR
O que é ser estranho? O que é estranho para um é sempre estranho para outro? Pode ser bom ser estranho?
Se já viajaste para outro país, deves lembrar-te de ter reparado em alguma coisa de diferente nesse país. Tiveste medo? Achaste interessante? Ficaste confuso?
Se vieste de outro país para Portugal: o que achaste mais estranho quando aqui chegaste? E agora, continuas a achar alguma coisa estranha?
Por vezes, como nesta história, o medo em relação ao que é estranho leva a que entrem em cena exércitos, armas, violência. E aí nasce a guerra, porque o medo leva muitas vezes à violência. Já te aconteceu teres medo e reagires com violência? Ou já observaste alguma vez isto acontecer? Como foi?
Já alguma vez te sentiste estranho? Quando? E já alguma vez achaste alguém estranho? Porque é que isso aconteceu? Como reagiste a essa diferença?
Normalmente estranhamos as coisas que não conhecemos. Se estivermos disponíveis para conhecer e compreender essas coisas, será mais fácil aceitá-las e elas passarem a ser normais?
Quando nos sentimos mais seguros em relação ao que nos é estranho, começa a surgir a curiosidade. Achas que a curiosidade é uma coisa boa? De que maneira? E pode ser uma coisa má?
EXPLORAÇÃO
Criação de um Gabinete de Curiosidades
Tipo de exploração
projeto (investigação e expressão plástica)
Material sugerido
caixa de cartão; diferentes papéis; canetas e lápis; gravador ou telemóvel
Há pessoas estranhas, barulhos estranhos, histórias estranhas, imagens estranhas. E porque é que são estranhas? Talvez porque não as compreendemos. Mas o que é estranho desperta-nos a curiosidade.
Durante a época dos Descobrimentos, à roda dos séculos XVI e XVII (que são os anos entre 1500 e 1699), colecionavam-se elementos raros, curiosos ou estranhos dos três ramos da biologia que se consideravam na época – o animal, o vegetal e o mineral –, para além de invenções humanas. Os lugares onde se juntavam estas coleções chamavam-se Cabinets de Curiosités ou Gabinetes de Curiosidades, ou ainda Quarto das Maravilhas. E, na verdade, são os pais dos atuais Museus!
Vamos experimentar explorar essa coisa da estranheza fazendo um Gabinete de Curiosidades. A coleção que irás expôr neste gabinete pode ter histórias, imagens e notícias que te pareçam estranhas e curiosas.
1. De casa, traz garrafas e frascos de vidro transparente. Estas vão ser as redomas* para poderes expôr as coisas estranhas que vais colecionar.
2. Investiga tradições, costumes, e histórias de diferentes países (incluindo de Portugal) que te pareçam estranhas. Também podes descobrir coisas estranhíssimas mesmo à tua porta e até na tua família. Olha bem à tua volta!
3. Escreve-as, recorta-as ou desenha-as em folhas e guarda cada uma na sua redoma.
4. Ao longo do tempo irás fazendo com os teus colegas, uma coleção de curiosidades estranhas.
5. Na “Hora Curiosa”, que o teu professor irá definir, vais apresentar à turma a curiosidade ou estranheza que encontraste. Pode ser uma semente ou fruto que encontraste no jardim, ou uma história que ouviste contar, ou uma tradição que aprendeste sobre outro país, ou um objeto que não saibas para que serve, uma imagem enigmática**.
6. Depois, em conjunto com a turma, podes investigar mais sobre esse assunto, objeto ou acontecimento.
7. Recorta um retângulo de papel e escreve nele o nome do teu achado.
8. Cola o retângulo à redoma e coloca-a num lugar da sala onde, ao longo do tempo, possam ir organizando e expondo a coleção de enigmas que se transformaram em descobertas. A tua sala irá transformar-se num verdadeiro Gabinete de Curiosidades!