Miséria
Título
Miséria
Título original
Misery
Autor
Suzanne Heller
Tradução
Miguel Gouveia
Edição
Bruaá, 2018
Dimensões da educação para a cidadania
educação para os direitos humanos
Palavras-chave
vergonha; tristeza; infelicidade; diferença; infância; solidão; humor; humor negro
ENQUADRAMENTO
Miséria — normalmente usamos esta palavra para falar de “pobreza extrema”, mas aqui, neste livro, a palavra tem outro significado.
Já reparaste que o próprio livro tem um ar um bocadinho “miserável”, tristonho, pobre? É pequeno, tem poucas poucas cores, uma capa áspera e um formato e encadernação diferentes do habitual. As ilustrações não têm grandes pormenores e até as personagens parecem um pouco miseráveis. Nem sequer têm pescoço, como se estivessem sempre enfiadas em si próprias, a querer desaparecer. Nada disto é por acaso.
Neste livro, a palavra miséria é usada para listar uma série de situações em que nos sentimos miseráveis, desgraçados, péssimos, infelicíssimos, os piores do mundo. Aquelas situações em que gostávamos de desaparecer para dentro de um buraco. Aquelas que achamos que só nos acontecem a nós. Mas, se calhar, não é bem assim… Aliás, à medida que vamos lendo esta espécie de dicionário de desgraças, vamos tendo vontade de rir. E isso acontece não porque as situações sejam muito engraçadas mas porque já experimentámos muitas delas e sabemos exatamente o que é passar por aquilo. E não é bom.
Os humanos têm este modo estranho, mas muitas vezes saudável, de se rirem de si próprios. De vez em quando, também se riem das desgraças dos outros e isso não é assim muito simpático. Mas é verdade que, por vezes, algumas coisas tristes ou trágicas nos dão imensa vontade de rir. Até existe um nome para isso: humor negro.
É comum dizer-se que a infância é a idade de ouro. Mas toda a gente que é ou já foi criança sabe que há muitas coisas difíceis que acontecem e com as quais não é nada fácil lidar. Toda a gente que é ou já foi criança sabe que as crianças não estão sempre felizes e alegres e que, em certas alturas, se sentem mesmo miseráveis.
A verdade é que, se falarmos sobre essas coisas, ficamos a saber que todos temos medos, tristezas e vergonhas parecidas. E bom, bom mesmo, é podermos rir-nos delas!
PERGUNTAS PARA PENSAR
A última frase do livro é: “Miséria é quando os adultos não se dão conta de quão miseráveis as crianças se podem sentir.”
E as outras crianças? Entendem sempre quando nos sentimos assim, péssimos? Ou às vezes até gozam com isso? É que há situações que para nós são terríveis, mas, vistas de fora, dão imensa vontade de rir.
Já alguma vez te riste de uma pessoa que caiu na rua? Diz-se que “é fácil rir da desgraça dos outros”. E é mesmo. Será possível aprender a rir das nossas próprias desgraças?
Aquilo que nos faz sentir miseráveis é igual para toda a gente? Conversa com os teus colegas sobre isso.
Já passaste por alguma situação parecida com uma das que estão descritas no livro? E houve alguma do livro que não tivesses percebido por que é que é descrita como miserável?
Achas que é verdade? Os adultos não percebem estas coisas? Ou, por vezes, também eles se sentirão miseráveis? Conversa com os adultos da tua família sobre isto e pede-lhes para te contarem uma história em que se tenham sentido assim.
EXPLORAÇÃO
Continuação do livro num exercício de aproximação estilística ao registo escrito e plástico do livro
Tipo de exploração
escrita e expressão plástica
Material sugerido
papel branco e vermelho; caneta ou marcador pretos
1. Em conjunto com os teus colegas e professor, faz uma coleção de todos os momentos miseráveis de que se conseguirem lembrar. Imagina algumas situações que a Suzanne Heller, a autora, não tenha descrito no livro. Podem ser coisas que já te aconteceram ou coisas imaginadas e que te pareçam ser do mesmo tipo das que são referidas no livro — situações que te envergonhem, entristeçam, te deixem infeliz e sejam próprias da infância. Por exemplo: ir para a escola com um sapato de cada nação; ser envergonhado em público por um adulto que insiste em pentear-te; ter um acidente na casa de banho; etc.
2. Depois de fazeres essa coleção em conjunto com os teus colegas, cada um deve ficar com uma situação. Não pode haver duas iguais!
3. Pega em duas folhas de papel: uma vermelha e uma branca. Com uma caneta preta, escreve a situação na folha vermelha, tendo sempre em conta a forma como a Suzanne Heller o faz no livro: “Miséria é quando…” Procura também imitar o tipo de letra.
4. Na folha branca, ilustra a tua situação. Podes usar uma caneta ou um marcador preto. O mais importante é procurares perceber como é que a Suzanne desenhou estas figuras. Para isso, observa bem as figuras que ela criou, as suas caras, corpos e expressões. Nas guardas do livro (que são as primeiras páginas que vês quando abres um destes álbuns ilustrados) tens imensos exemplos de caras.
a) Escolhe um tipo de penteado e faz uma cara redonda, mas não muito perfeitinha.
b) Os olhos são só dois arcos com uma pinta preta no espaço entre eles.
c) No lugar do nariz, podes pôr duas pintinhas ou nada!
d) A boca também é só uma linha: umas vezes, em arco, virada para cima ou para baixo; outras, direita, sem expressão.
e) Não faças pescoço, e as mãos nunca podem ter cinco dedos: sempre menos!
f) E os pés? Sempre minúsculos.
5. Quando o livro estiver pronto, com as misérias de toda a turma, podem fazer-lhe uma capa em cartão, onde esteja o título e só uma ilustração. De todas as ilustrações que fizeram, têm de escolher qual a mais miserável para ser capa do vosso livro. Só podem usar duas cores: preto e vermelho. Que miséria…