Eu espero…
Título
Eu espero…
Título original
Moi, j’attends…
Autores
Davide Cali e Serge Bloch
Tradução
Miguel Gouveia
Edição
Bruáa, 2016
Dimensões da educação para a cidadania
educação para os direitos humanos
Palavras-chave
ciclo da vida; fases da vida; sentido da vida
ENQUADRAMENTO
Esperar é chato. Ninguém gosta de esperar. Passamos o ano à espera de fazer anos. E depois, mal acaba esse dia, passamos novamente o ano inteiro à espera. Desse dia, ou do Natal, ou do primeiro dia de férias.
Parece que passamos a vida inteira à espera: esperamos para nascer, esperamos para crescer, esperamos que cheguem as datas e os acontecimentos importantes, esperamos por coisas simples e pequenas como um bolo a cozer no forno, o fim da interminável viagem de carro, a chegada de alguém. E também esperamos por coisas grandes e complexas como o fim da guerra ou o aparecimento do nosso amor. Esperamos pela vida e esperamos pela morte.
Em diferentes alturas, esperamos por coisas diferentes e esperamos também que a vida nos traga diferentes coisas.
Neste Eu espero, seguimos um fio vermelho da primeira à última página. Esse fio acompanha o nascimento, crescimento e envelhecimento de um homem. O fio é o cordão umbilical, mas também o cachecol, o fio do telefone, a coroa de flores, o sangue. No final do livro, o protagonista, já depois de uma longa vida, espera a chegada de mais alguém na sua família. Será um neto?
Diz-se de alguém que está mal que “está por um fio”. Usa-se esta expressão porque um fio é uma linha frágil que se parte ou corta com facilidade. Também se enrola, faz laços, embaraça e fica tenso, quase a rebentar se puxarmos demais por ele. Tal como a vida.
PERGUNTAS PARA PENSAR
O que significa para ti esperar? Por que coisas costumas ter de esperar?
Gostas de esperar? Porquê? O que fazes quando esperas? Esperar pode ser bom? Esperar pode servir para alguma coisa?
O que pensas que pode significar a linha vermelha? Porque começará ela na primeira página e porque acabará na última? Porque será vermelha?
Olhando para cada uma das ilustrações, verás que esta linha tem várias utilidades e que acompanha o protagonista de formas diferentes ao longo da vida. Por vezes, as formas do fio vermelho repetem-se. Porquê?
Haverá coisas próprias de cada idade? Haverá coisas exclusivas de quando se é criança? Ou de quando se está na adolescência? Ou de quando se é jovem adulto, se está na meia idade ou se é velho?
E se essas coisas são exclusivas dessa idade, não podem mesmo ser vividas noutra fase? Por exemplo: no livro, o rapaz é um jovem adulto quando se apaixona por uma rapariga. Será que o amor só pode ser vivido quando se é jovem? E o casamento? Poderá ser vivido mais tarde, quando já se é velho? E será que se pode esperar um bebé quando se é velho? E a morte? Terá a morte um único momento para chegar?
Se houvesse uma linha que atravessasse toda a tua vida, que cor teria ela? Porquê?
Imagina que esticamos um fio com um metro de comprimento. Esse fio seria a linha da tua vida. Em que parte do fio estás tu, hoje? Início, meio ou fim do fio? A quantos centímetros do início do fio marcarias o teu presente? E daqui a dois anos, a quantos centímetros do início do fio estarás? E quando fores adolescente? E quando chegares a adulto? Em que zona do fio terás a idade do teu pai ou da tua mãe? E quando fores mais velho e tiveres a idade dos teus avós, em que parte da linha estarás?
EXPLORAÇÃO
Criação de um conjunto de mensagens para serem reabertas e lidas no futuro, em momentos específicos da vida, num exercício de espera
Tipo de exploração
projeto (investigação e expressão plástica)
Material sugerido
papel; fios de cores; canetas; caixa de cartão
Esta proposta é um exercício de espera. E também um exercício de pensamento sobre o futuro. O que te propomos é que escrevas mensagens para ti próprio, mensagens pensadas para serem lidas por ti em diferentes fases da tua vida futura. Estas mensagens terão de ficar guardadas até esses momentos futuros chegarem, e a espera será obrigatória…
1. Pega num papel. Nele irás escrever uma mensagem para ti próprio, para ser lida apenas por ti, mas só daqui a dois anos. Faz as contas e vê que idade terás nessa altura. Pensa em algo que desejes muito (pode ser uma coisa concreta ou algo que queiras muito alcançar) e que não tenhas ainda mas que imagines que terás conquistado daqui a dois anos. Escreve esse desejo em forma de segredo para releres apenas daqui a, aproximadamente, 730 dias. Quando terminares, dobra muito bem o papel e embrulha-o com um fio da cor que achares mais apropriada para a tua vida futura. Escreve por fora a idade com que deverás abrir esta mensagem.
2. Pega noutro papel. Nele irás escrever um recado para ser lido por ti apenas no dia em que fizeres 18 anos. Imagina o que, nessa altura, quando tiveres acabado de entrar na idade adulta, gostarás de ler. Pensa no que achas que um jovem adulto deve saber, do que se deve lembrar, no que deve pensar (ou não deve pensar de todo!). Enrola o papel. Escreve por fora a idade com que deverás abrir esta mensagem. Ata um pedaço do fio que escolheste à sua volta.
3. Pega em mais um papel. Agora vais escrever uma pequena carta para ser aberta e lida por ti numa altura em que já fores adulto e receberes a notícia de que um bebé importante para ti está para nascer*. Imagina que nessa altura estarás perto da idade que os teus pais ou os teus tios têm hoje. Pensa o que não deves mesmo esquecer quando chegar o momento de receber esse bebé importante. Pensa na relação que tens com a tua mãe, pai ou com os adultos com quem vives e que tomam conta de ti. Pensa no que te agrada ou desagrada neles e escreve o recado com base nesse pensamento. Podes dobrar o papel e enrolar o fio à volta dele e, mais uma vez, escrever por fora a idade com que deverás abrir esta mensagem.
4. Noutro papel, vais escrever um texto curto para leres apenas quando tiveres a idade dos teus avós**. Imagina que palavras gostarás de ler quando estiveres nessa fase da tua vida. Lembra-te do que te parece importante nunca esquecer, nem mesmo quando fores mais velho. Lembra-te de que essa pessoa mais velha serás tu mesmo, mas daqui a muito tempo. Lembra-te de que irás ler uma mensagem da criança que um dia foste. Enrola o papel e ata à volta dele um pedaço de fio.
5. Agora deves arranjar uma pequena caixa. Pode ser uma caixa de sapatos, ou então uma caixa ainda mais pequena. Lá dentro terão de caber as cartas e mensagens que criaste.
6. Num último e pequeno pedaço de papel, escreve uma única frase. Essa frase deve começar da seguinte maneira: “Eu espero…” Completa-a pensando naquilo que esperas da tua vida futura. Deverás colar esse último papel na tampa, ou parte superior, da tua caixa.
7. Deposita as quatro mensagens criadas por ti no interior da caixa. Em seguida, fecha a caixa atando mais um pouco de fio à sua volta. Sabes que não tornarás a abrir esta caixa senão daqui a dois anos. Depois poderás abri-la novamente no dia em que fizeres 18 anos e apenas em mais outros dois momentos da tua vida: quando receberes a notícia de que um bebé importante está para nascer e quando fores da idade de um avô/ó.
Se quiseres, podes juntar-lhe um objeto importante para ti agora, um objeto que tenha um significado especial, para reveres nestas quatro fases da tua vida futura.
8. Guarda a caixa num sítio seguro. Se precisares, podes escrever a localização da caixa, para saberes, daqui a uns anos, onde se encontra. Se quiseres, podes até enterrá-la. Mas, nessa altura, convém fazer um mapa! Agora, para a voltares a abrir, terás muito que esperar…