A manta do José
Título
A manta do José
Autores
Miguel Gouveia e Raquel Catalina
Edição
Bruaá, 2019
Dimensões da educação para a cidadania
educação para os direitos humanos
Palavras-chave
sustentabilidade; memória; avós; relações; reduzir, reutilizar, reciclar; património
ENQUADRAMENTO
Por mais que a mãe do José o queira convencer de que a manta que o avô lhe fez tem os dias contados, José não se deixa convencer.
Nesta história, ao contrário do que é costume, é o menino que não quer uma coisa nova e que quer, a todo o custo, preservar o que o avô lhe deu.
Repara que, em quase todas as páginas em que o José está com o avô, aparece a abraçá-lo. O carinho que o José tem pelo seu avô ganha, nesta história, a forma de um objeto: uma manta — que o avô transforma e volta a transformar até à última, de modo a que o José a possa ter sempre consigo.
Às crianças, o tempo faz crescer; as coisas, o tempo estraga, rasga, rompe.
Mas há objetos assim. Diz-se que são simbólicos. São para além do que realmente são, valem mais do que o seu valor. E o José, até melhor do que a sua mãe (que parece ainda não ter ouvido falar dos três Rs*!…), sabe o valor que aquele objeto tem.
A manta do José nasceu das mãos do avô; depois transformou-se, reinventou-se, renasceu, também pelas mãos do avô e a vontade do neto.
E, no final desta história tradicional judaica**, que o Miguel contou e a Raquel ilustrou, o avô do José volta a fazer magia. Vemos a página onde os moldes, os esquemas que o avô faz para desenhar os seus casacos, se confundem com as linhas do seu rosto. Até parece que podemos ver os seus pensamentos!
E o botão, que parecia o ponto final desta história, foi, afinal, o início dela.
*Reduzir, Reutilizar e Reciclar
**judaico é tudo o que é relativo aos judeus ou ao judaísmo
PERGUNTAS PARA PENSAR
Como é que um objeto pode ser valioso sem valer muito dinheiro?
O que mede o valor das coisas?
Como é que uma manta, — um lençol, um guardanapo, um colar — podem ser mais valiosos do que um diamante?
Tens algum objeto de que gostes como o José gostava da sua manta?
Se tivesses de escolher apenas um objeto que pudesses guardar para passar aos teus filhos e netos, qual seria?
Esta história é recontada pelo Miguel, mas, na verdade, ela vem de uma história antiga, da tradição judaica. As histórias, embora não se possam tocar (se não estiverem num livro), também podem ser património? Porquê?
E as histórias também podem ser valiosas? Tens histórias de família que se contem vezes sem conta?
E as coisas? Podem contar histórias, guardar memórias?
As coisas também têm “uma vida”? É possível dar-lhes nova vida? Como?
EXPLORAÇÃO
Criação de uma manta de retalhos bordados
Tipo de exploração
expressão plástica
Material sugerido
um quadrado de tecido 22×22 por aluno (restos); tesoura; agulhas, linhas para bordar, pedaços de lã (restos); lápis de carvão
Às vezes, aparecem nas nossas gavetas peças de roupa que se romperam, diminuíram de tamanho, sobraram de outras peças. Às vezes, descobrimos em nossa casa pedaços de tecidos que contam histórias de família e nos levam para outros tempos.
Vamos pegar nesses tecidos e dar-lhes uma nova vida!
1. Procura em tua casa um pedaço de tecido que esteja perdido e sem destino. Se não souberes de onde veio ou que outras vidas já teve, tenta descobri-lo através dos teus familiares.
2. Com uma tesoura, corta um quadrado de 22×22 cm (vais usar o quadrado 20×20 e os 2 cm que sobram a toda a volta são para a costura final). Leva o teu quadrado de tecido para a escola.
3. Partilha com os teus colegas a história desse pedaço de tecido ou as pistas ou informações que tens sobre ele. Por exemplo: se pertenceu a uma camisa da tua avó, se era uma parte de um saco que levavam para a praia e se rompeu, se é um resto de um tecido usado para fazer uns calções ao teu irmão, se foi comprado numa loja no teu bairro, se cheira a antigo ou ao detergente da roupa de casa da tua avó, se é um pedaço que não chegou a ser usado para fazer um fato de Carnaval…
4. A partir da história que contaste, pensa na pessoa a quem o teu pedaço de tecido mais se liga. Desenha o seu rosto, sobre o teu quadrado de tecido, a lápis de carvão.
5. Procura em tua casa, ou pede a um familiar, restos de linhas que sirvam para bordar. Vais usar esses restos (e as cores que tiveres disponíveis) e uma agulha ajustada à tua idade para bordares as linhas que formam o teu desenho. Se não conseguires bordar, usa pedaços de lã para contornares as linhas do rosto. Para isso, faz uma linha de cola sobre o desenho a lápis e vai colando a lã por cima.
6. Quando todos tiverem concluído, vão montar a vossa manta coletiva. Vão colar cada um dos quadrados com massa adesiva a um papel de cenário. Organizem-nos pela ordem pensada por vocês, de maneira a que formem, no seu conjunto, um retângulo. Peçam ajuda a alguém que possa, depois, costurar todos os tecidos uns aos outros.
7. Ficam assim com uma manta para pendurarem na parede da vossa sala, ou num lugar especial da vossa escola, com várias camadas de histórias para contar: as histórias dos tecidos, as histórias das pessoas bordadas, a vossa própria história.
8. Agora, peguem num lápis e num papel e escrevam a história da vossa manta. A pessoa a quem pertencer o primeiro tecido da manta escreve uma frase relacionada com o seu tecido e bordado. A pessoa a quem pertence o quadrado seguinte tem de dar continuidade à frase que acabou de ser escrita. Vão encadeando as ideias e formando uma história que ligue todos os vossos tecidos e pessoas neles bordados. No final, terão cosido todos juntos uma belíssima história!