O protesto
Título
O protesto
Autor
Eduarda Lima
Edição
Orfeu Negro, 2020
Dimensões da educação para a cidadania
educação ambiental/desenvolvimento sustentável; educação para os direitos humanos; educação para o desenvolvimento
Palavras-chave
ironia; ambiente; os animais que connosco dividem a Terra; manifestação; a força do silêncio; mal-entendidos
ENQUADRAMENTO
Os pássaros gostam de piar e de cantar. Mas este livro começa com um pássaro que faz o contrário: cala-se. Este pequeno acontecimento — ou não-acontecimento — levou a uma reação em cadeia. Só porque um pássaro se calou, outras coisas foram deixando de acontecer. E, assim, não-acontecendo, fizeram com que outras acontecessem.
Quando chegamos ao fim da história, parece que talvez tudo não tenha passado de um mal-entendido: afinal o pássaro não se calou, estava só engasgado. Mas, pela maneira como a história está contada, texto e imagens, nesta sequência, achamos mesmo que o pássaro — e todos os outros que o seguiram — estão a fazer uma greve. Uma greve de silêncio. Parece que fizeram um pacto, que, aliás, as crianças rapidamente perceberam e também apoiaram — como na realidade têm feito nas Fridays for Future*.
Foi como se toda a humanidade tivesse engolido uma tampa e estivesse suspensa num momento entre o vai-para-cima ou vai-para-baixo, sem respirar. Um daqueles intermináveis segundos, que às vezes vemos em filmes, e alguns de nós já experimentámos em momentos importantes, em que tudo fica congelado e só o nosso coração bate. Há, normalmente, a seguir, uma grande revelação ou uma enorme mudança no curso da narrativa ou da História. É assim que começa esta história.
Mas nem sempre é assim. Na experiência da pandemia, estranhamente, essa promessa de mudança que todos sentimos foi desaparecendo. Houve menos poluição, mais silêncio, mais tempo, mais espaço para a Terra acontecer. Mas ainda pouco mudou. E agora?
*Fridays for Future é um movimento internacional, iniciado em agosto de 2018 por Greta Thunberg, em que os estudantes faltam às aulas (à sexta-feira) para se manifestarem a propósito da urgência climática.
PERGUNTAS PARA PENSAR
Os teus pais dizem que protestas muito? Quando te acordam para ires para a escola, quando dizem que tens de comer uma coisa que não aprecias, quando tens de ir a um lugar onde não te apetece, quando te mandam para a cama?
De certeza de que já protestaste contra alguma coisa. Com o quê?
Provavelmente até já protestaste bem alto, mas há protestos que se fazem em silêncio. De certeza que já passaste por uma situação em que alguém, em vez de ralhar alto contigo, apenas te olhou em silêncio. Ou assististe, pela TV, a um minuto de silêncio num início de um jogo de futebol. Achas que também o silêncio pode ser um forte “grito” de protesto?
Porque é que o pássaro e todos os outros animais pararam? Terá sido em protesto? Porque achas que estão a protestar?
Que consequências têm esses protestos?
E as crianças? Porque achas que são elas que apoiam os animais neste protesto?
Umas vezes é preciso calar e outras é preciso falar. Na tua escola ou na tua cidade, sentes que há alguma coisa que não possas calar?
EXPLORAÇÃO
Projeto de investigação que culmina numa performance-protesto a partir de grandes títulos informativos e notícias de última hora
Tipo de exploração
projeto (escrita e expressão dramática)
Material sugerido
papel e lápis, livros e computador com ligação à internet
Há sempre muito para saber e aprender sobre o lugar onde vivemos e as espécies com quem o partilhamos. Quanto mais sabemos, mais conscientes e fortes nos tornamos (a nós e ao mundo!). Vamos pesquisar sobre a importância de alguns animais e organizar um protesto em forma de performance*!
1. Escolhe um animal que aches que é importante. Cada um dos teus colegas deve também escolher um animal. Entre vocês, selecionem um conjunto de animais diferentes: nas vossas escolhas, devem estar representados animais mais pequeninos, como formigas, aranhas ou centopeias, mas também grandes animais, como baleias ou ursos polares.
2. Faz uma pesquisa sobre o animal que escolheste: como e onde vive, o que come, qual a sua importância para o equilíbrio da vida na terra. Está em perigo de extinção? Porquê? O que põe em risco a sua vida? O que acontece se a sua espécie desaparece para sempre? Qual o impacto dessa extinção na vida na terra, na vida dos outros animais, na vida dos seres humanos? E se a sua espécie fizesse um protesto?
3. A partir dos factos que recolheste sobre o teu animal, imagina um grande título, uma última hora para informares o teu país das consequências do desaparecimento ou do protesto da sua espécie. Por exemplo: “As aranhas deixam de tecer teias: insetos invadem a cidade”; “Sem abelhas, há flores que não se podem reproduzir; sem flores, há várias espécies de animais a morrer!”; “Última hora: sem o cocó das baleias, o planeta vai aquecer ainda mais!”
4. Agora imagina que trabalhas numa estação de rádio ou televisão, e que és tu que vais ler a última hora. Com que entoação o farás? Experimenta dizê-lo de várias formas: com um tom preocupado; informativo; ansioso; medroso; alarmista. O que muda entre as várias formas de ler o teu título? O que muda se estiveres a apresentar a notícia num direto na televisão, num programa de rádio ou a ler a parangona** de um jornal como um ardina***? Qual achas que é o tom mais indicado para aquilo que estás a dizer?
5. Põe-te de pé para leres o teu título no tom que tiveres escolhido. Ponham-se todos de pé e, um a um, leiam os vossos grandes títulos. Experimentem ler em cadeia, um logo a seguir ao outro, sem silêncios no meio. Experimentem ler dois a dois, começando em tempos desfasados. Escolham o que vos soar melhor, o que achem que cria mais impacto.
6. Façam uma performance-protesto: escolham um local espaçoso e arejado (o recreio ou uma sala grande na vossa escola). Pensem na forma como se vão dispor todos nesse espaço. Inspirem e expirem todos ao mesmo tempo e iniciem a vossa performance-protesto!